quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O MESTRE PHILIPPE DE LYON


Por: François TROJANI


Traduzido da revista: “L´Originel” N° 2





Não se pode classificar o Mestre Philippe Nizier como fundador, sucessor, nem como tendo pertencido a uma ordem Iniciática antiga ou recente.

Todavia, seu impacto sobre algumas das figuras de proa dessas ordens foi certamente considerável. Citaremos como lembrança os mais conhecidos, Papus, Sedir, Marc Haven, etc.... eles mesmos tendo participado em graus diversos nas organizações iniciáticas da época, Martinismo, Maçonaria, Igreja Gnóstica, O.F.B., etc..

Através dos documentos que pudemos consultar, temos fortes razões para pensar que não se tratava senão da parte visível do iceberg. Um número considerável de ocultistas, de espiritualistas, de pesquisadores e de homens políticos o consultaram, em graus diversos. Cremos que ele possuía uma estranha faculdade. Qualquer que seja o meio, ou as circunstâncias, que o conduziam a agir, ele se lhes manifestava. Para os cuidadosos Lyoneses, era um “curador”, é preciso dizer, fora do comum, para os homens de fé um santo, para seus inimigos um feiticeiro alcoólico, para os ocultistas um taumaturgo, para os políticos um agente secreto, e para os jogadores de bola de gude da praça Bellecourt, um agradável parceiro.

Chegamos até mesmo a consultar um documento que faz referência a ele, em sua juventude em Lyon, como a uma espécie de radiestesista incomparável para encontrar papéis ou objetos perdidos. E era, em geral, extremamente raro que cada uma dessas pessoas ou desses meios tivesse a mínima idéia de suas atividades afora. Ele manifestou desde a infância os mais estranhos dons e poderes incomuns.

Durante anos, por ocasião de diferentes estadas em Yennes, pequeno vilarejo da Savóia perto de seu local de nascimento, Loisieux, fizemos enquetes sobre sua juventude. As testemunhas diretas haviam desaparecido, mas subsistia ainda entre alguns dos descendentes trechos de histórias e algumas lendas.

Por exemplo a efetiva cura das dores de cabeça que ele fazia unicamente com sua presença, a bola de fogo que acompanhava a Eucaristia na hora da comunhão, etc. Um lenda relata que ele estava em comunicação com um reino subterrâneo estranho sob o Mont du Chat. No que nos diz respeito, pensamos que ele foi uma criança como as outras, muito amado, numa família piedosa e unida. Sem dúvida alguma, se tivessem desejado, seus irmãos teriam dito mais a respeito. Um destes últimos, Benoît, professor num vilarejo vizinho, era ele próprio uma personagem muito estranha. Ele estava em verdadeira osmose de espírito com o Mestre Philippe. Um outro de seus irmãos só falava dele depois de tirar o chapéu... É, ainda assim, coisa rara nas famílias.

As histórias sobre o Mestre Philippe abundam e, como sempre, cada qual só retém o que lhe interessa ou o confirma em sua via. Nossa proposta neste artigo não é a de recapitular estas últimas.
Retermos simplesmente este primeiro fato. Ele nascera com esses dons. Possuía os poderes que ele manifestou plenamente no decurso de uma precedente e extraordinária vida, como o livro de Marc Haven deixa suspeitar, uma herança familiar de uma missão particular de reabertura do “livro da vida”? Outras tantas pessoas, encontros, e como sempre outras tantas opiniões.

Por vezes ele se concentrava um instante; ele pedia ao céu ou por vezes, segundo sua fórmula, ocorria-lhe de dizer “agrada-me que...”; ele rezava, seguindo as formas mais clássicas, o Pai Nosso e a Ave Maria, ele só se referia ao Evangelho, ao Pai ou a Cristo.

Tinha lugares de predileção aonde gostava de ir e meditar, não muito longe da pia de água batismal, na entrada da Basílica de Fourvière em Lyon. Numa velha capela, dedicada a Santa Filomena, subindo em direção a Fourvière na margem da estrada. Mais estranhamente, quando estava de passagem em Paris, no cemitério próximo à antiqüiquíssima Igreja St. Pierre de Montmartre, perto de um jazigo de Cristo. Ele era um bom cristão, jamais criticava as instituições ou as pessoas mas tanto quanto sabemos, ele não manifestava um amor imoderado pela Igreja.

Fora da calma propícia ao recolhimento e à prece, penso, contudo, que esses comentários são uma fraquíssima percepção de seu verdadeiro trabalho, a parte emergida de sua passagem por este mundo.

Muito jovem, ele dá sessões de cura em Lyon, seguindo nisso um método particular, ultrapassando amplamente o quadro do simples magnetismo curativo. Isso poderia ser expresso em algumas frases, edificantes a mais de um título sobre a validade e eficácia do poder. “Recebi o poder de comandar”, “eu vos afirmo que tenho um grau que me permite perdoar as faltas.”

Sem cessar ele voltava aos ensinamentos dados nas sessões quotidianas, insistindo na humildade, na prece e no amor ao próximo, sem os quais qualquer tentativa de curar os doentes permaneceria inoperante no tempo.

Ele assumiu, no entanto, aulas, de uma relação completamente relativa com as ministradas por Hector Durville em Paris, sobre um magnetismo muito particular. Ele próprio jamais utilizava os passes. Suas aulas eram ilustradas por experiências surpreendentes. Mergulhava-se verdadeiramente num outro mundo em que o milagre era constante: com demonstração física a cada instante daquilo que fora  antecipado.

Na aula de 26 de dezembro de 1895, na qual 75 pessoas estavam presentes, nota-se a experiência seguinte: “Vou pegar uma quantidade considerável de fluido magnético numa região que vós não conheceis. Vou torná-lo tangível, quer dizer, sólido, e vós vereis assim como eu e sentirão tanto quanto eu! É feito no mesmo instante..” Todos os assistentes declaram distinguir perfeitamente o fluido na mão do mestre. “Vou lançar esse fluido no gelo que está à vossa frente; vede e ouvi.” No mesmo instante um terror indescritível toma conta dos assistentes, um homem recebe o fluido em pleno peito, o que lhe ocasiona uma sufocação próxima da asfixia.

O mestre diz, então:

“Vós só podereis fazer essas coisas mais tarde, mas quero ensinar-vos as operações a fim de que vós possais fabricar fluidos magnéticos, com substâncias vegetais.” “A artemísia, a dedaleira, etc. são plantas magnéticas. Quando se fazem passes, se as temos nas mãos, isso aumenta a quantidade de fluido.”

Notemos ainda estas poucas indicações: “É preferível cuidar dos doentes antes do levante ou depois do poente do sol, à noite é melhor.”

Entregou-se, do mesmo modo, a diferentes pesquisas concernentes a arcanos médicos e com esse feito ocupou cargos em diferentes laboratórios. O mais conhecido situava-se à Rue du Boeuf, na Croix Rousse. Possuímos pouquíssimas informações sobre essas atividades e sobre os resultados subseqüentes. Que saibamos, somente André Savoret retomou esses trabalhos e aperfeiçoou alguns remédios. Encontravam-se no meio deles outras pesquisas sobre o ácido láctico, assim como o famoso soro “Héliosine”. Resultava da ação prolongada do cloreto de sódio sobre uma matéria rica em queratina.

O doutor E. Lalande conhecia, sem dúvida alguma, o conjunto dessa farmacopéia. Possui-se uma carta que ele endereçou a Papus, sugerindo-lhe a montagem de um laboratório espagírico, em associação, como o que Jolivet Castelot se animava.

Sempre se manifestaram, fora da iniciação, seres particularmente dotados.

Sem procurar estabelecer uma primazia ou uma hierarquia entre uns e outros, o que é entretanto notável, quase que único aqui, é a extensão e a qualidade dos poderes manifestados por esse ser. Verificamos cuidadosamente durante anos a autenticidade dos fatos relatados. Comparamos com outros homens dotados de poderes e devemos dizer que os seus continuam a ser um enigma que desafia a razão. A ascese, até mesmo a santidade. Sem dúvida porque eles são da ordem da Fé, da Graça ou do Mistério.

A conclusão que disso queremos deduzir é de que existem poderes de uma ordem infinitamente superior, agindo por intermédio de palavras simples e quotidianas, tendo como centro, a humildade e o amor. Mas estamos aqui a mil léguas das litanias dos Deuses, das magias, e dos saberes, e nem todos podem tomar emprestada essa via. Atemo-nos, no entanto, a assinalá-la. Nem exotérica, nem esotérica, como uma espécie de piscadela de um humor colossal que Deus nos dá de tempos em tempos, modificando todas as nossas lógicas, todas as nossas construções e nossos esquemas, liberando, de alguma forma, a Força das tiranias e das “passagens obrigadas” onde pensamos tê-la avistado de relance ou coagido.


CADEIA INICIÁTICA MARTINISTA




AS OBRAS DE SAINT-MARTIN

Louis-Claude de Saint-Martin - O Filósofo Desconhecido
Por um Servidor Incógnito



(Palestra proferida, em 16/10/95, por ocasião do centésimo nonagésimo segundo ano de partida para o Oriente Eterno do nosso Venerável Mestre, ocorrida em 13/10/1803).


Publicado no Boletim Informativo "O Pentagrama", ano I – número I – Dezembro/1995 da Heptada Martinista Niterói da T.O.M.



Nascido no dia 18 de janeiro de 1743, na cidade de Amboise, França, Louis-Claude de Saint-Martin, ainda muito jovem, ficou órfão de mãe e, devido aos conflitos com seu pai, não teve uma infância muito feliz, crescendo em sua alma a ardente aspiração a uma vida superior. A falta de amor no ambiente familiar o induziu a buscar o amor de Deus. Durante sua breve passagem pelo serviço militar conheceu os Srs. De Granville e De Balzac, ambos discípulos de Martinès de Pasqually que havia criado, por volta de 1754, a Ordem dos Ellus Cohen. Graças a esses conhecimentos foi acolhido no círculo interno de Martinès de Pasqually, onde foi iniciado e tornando-se um discípulo predileto e seu secretário. A idéia da Reintegração da humanidade, proposta por Pasqually, atraiu fortemente Saint-Martin. Sua vida tomou um novo rumo quando ele teve contato com o "Agente Incógnito", um Ser pertencente aos planos superiores e que havia deixado seu selo na Loja de Lyon, cujos ensinamentos causaram em Saint-Martin profunda impressão.

Na escola de Martinès em Lyon, o caminho que conduzia ao Iluminismo levava à prática da "magia cerimonial". Após a morte de Martinès de Pasqually, a expansão foi feita na França pelos dois destacados discípulos: Jean-Baptiste Willermoz e Louis-Claude de Saint-Martin. Devido a divergências na difusão dos ensinamentos, Willermoz preferia a via mental que exigia desenvolvimento intelectual e encontrava expressão na magia cerimonial, ao passo que Saint-Martin preferia a via do coração e encontrava sua expressão na teurgia pura, eles logo se separaram. Saint-Martin desejava acima de tudo ver e demonstrar a essência preciosa revelada pela comunhão com os poderes superiores. A amizade das mulheres desempenhou um papel importante na vida de Saint-Martin, tendo a Madame de Boecklin, pessoa de elevada espiritualidade e grande inteligência, o instigado a ler as obras de Jacob Boehme, de onde tirou grandes conhecimentos e profundas inspirações. Segundo o próprio Saint-Martin, é Martinès de Pasqually que ele deve os primeiros passos na senda espiritual, mas é a Jacob Boehme que deve os passos mais significativos que havia dado. Por volta de 1795 Saint-Martin reuniu em torno de si um grupo de pessoas. Esse grupo recebeu o nome de Círculo Íntimo, Sociedade dos Íntimos, dando incido a linhagem de iniciações do Filósofo Desconhecido. Graças ao encontro de dois estudantes de medicina, interessados no misticismo, se deram conta de que ambos eram depositários de uma iniciação que remontava a Louis-Claude de Saint-Martin.

Em 1888 eles combinaram o que haviam recebido e decidiram transmitir a iniciação de que eram depositários a alguns buscadores de verdade, criando uma ordem iniciática e lhe deram o nome de Ordem Martinista. Esses místicos eram o Dr. Gerard Encausse (ou Papus), e PierreAugustin Chaboseau. Sob o pseudônimo de "Filósofo Desconhecido", Saint-Martin escreveu as seguintes obras:


"Dos Erros e da Verdade"
A tese desse livro é a de que pelo conhecimento de sua própria natureza o homem pode alcançar o conhecimento do seu Criador e de toda a criação, bem como as leis fundamentais do Universo, das quais encontra reflexo na lei feita pelo homem. Sob essa luz foi mostrada a importância do livre-arbítrio.


"Tábua Natural das relações que existem entre Deus, o Homem e a Natureza"
O homem teria sido privado de suas aptidões e seus meios superiores por ter mergulhado na matéria tão profundamente que nisso perdeu a consciência de sua natureza original, que tinha antes da queda e que era um reflexo da imagem de Deus. Com essa queda o homem ter-se-ia afastado do quadro de seus próprios direitos e deixaria de ser um elo entre Deus e a natureza.


"O Homem de Desejo"
Nessa obra vemos a influência da doutrina de Boehme. Essa obra lembra um dos salmos que exprime o ardor da alma para com Deus e deplora a alma do homem, seus erros e pecados, sua cegueira e sua ingratidão. Nessa obra, Saint-Martin viu a possibilidade de um retorno do homem a seu estado primitivo. Mas esse retorno só seria possível com o abandono da vida do pecado e seguindo os ensinamentos do Redentor Jesus Cristo, o Filho de Deus, que desceu das alturas de Seu trono celestial por amor a toda humanidade.


"Ecce Homo"
Saint-Martin adverte para o perigo de buscar a excitação das emoções das experiências mágicas de baixo nível, das premonições, dos diversos fenômenos que não passam de expressões de estado psico-físicos anormais do ser humano.


"O Novo Homem"
Nesse livro é tratado o pensamento como um órgão de renascimento que permite penetrar no mais profundo do ser humano e descobrir a verdade eterna de sua natureza. A alma do homem é um pensamento de Deus.


"Do Espírito das Coisas"
Nesse livro o autor declara que o homem, criado à semelhança de Deus, pode penetrar no seio do Ser que está oculto por toda a Criação e que graças a sua clara visão interior, ele é capaz de ver e reconhecer as verdades de Deus depositada na Natureza. A luz interior é um reflexo que ilumina as formas.


"O Ministério do Homem Espírito"
Aqui o Filósofo Desconhecido completa todas as indicações precedentes, apresentando um objetivo que não é diferente, qual seja, o da ascensão de uma alta montanha. O homem escala impelido por uma necessidade interior e no antegozo da vitória, que traz a liberdade após tribulações e sofrimentos. É a volta do filho pródigo ao Pai, sempre cheia de caridade e perdão. Isso é alcançar a unidade perfeita com Ele: "O Pai e eu somos um".




"Dos Números"
Trata-se de urna obra inacabada, mas contém muitas indicações importantes que não poderiam ser encontradas em outra parte. Ele analisou os números de um ponto de vista metafísico e místico. Nos números encontrou uma confirmação da queda e do renascimento do homem.


"O Crocodilo"
Descreve , através de um poema épico de 102 cantos, a maneira como o mal se insinua nas coisas sagradas e com perfídia ele destila seu veneno para destruir aqueles que são cegos e insensíveis. Mas o mal dispõe de um tempo limitado e pode ser facilmente reconhecido por sinais discerníveis; não pode iludir aqueles que tem a visão da consciência, que observa, e são cavalheiros de nobres desígnios.


"Nova Revelação"
Saint-Martin trata nessa obra do livre-arbítrio. o homem pode alcançar toda a verdade pelo conhecimento de sua própria natureza mediante todas as aptidões que ele tem: físicas, intelectuais e espirituais. Deve compreender profundamente a ligação que existe entre sua consciência e seu livre-arbítrio.


Nas obras póstumas do Filósofo Desconhecido foram publicados certos escritos curtos de sua autoria, dentre os quais são destaques: "Pensamentos Escolhidos, numerosos fragmentos éticos e filosóficos, poesias incluindo "o Cemitério de Amboise", "Estrofe Sobre a Origem e o Destino do Homem", além de meditações e preces. Louis-Claude de Saint-Martin era um cavalheiro empenhado nu busca da luz. Foi reconhecido como um dos maiores místicos da França, mas a obra de sua vida não se limitou às coisas que escreveu. Toda a sua existência foi dedicada à idéia de um grande renascimento da humanidade e ele desencadeou um eco profundo, não somente na França mas também no Oeste e no Leste da Europa.